Em Américo Brasiliense, um paciente quase passou por uma cirurgia desnecessária.
O verdadeiro problema era outro — e só foi descoberto com uma segunda opinião.
Ele procurou atendimento no hospital público de Américo Brasiliense, interior de São Paulo, com uma queixa simples: lacrimejamento excessivo. A espera por um exame oftalmológico foi longa, como em boa parte do SUS. Mas o que parecia ser uma condição corriqueira evoluiu rapidamente para um susto: o médico responsável indicou uma cirurgia de catarata, com a máxima urgência.
O paciente, desconfiado, não aceitou a recomendação imediata. Não sentia dor, nem turvação da visão — sintomas clássicos de catarata avançada. Decidiu buscar uma segunda opinião na Santa Casa de Araraquara. E a surpresa: ali, não apenas descartaram a necessidade da cirurgia, como identificaram o verdadeiro motivo do lacrimejamento — uma obstrução no ducto lacrimal, uma condição comum e tratável sem necessidade de intervenção intraocular.
A Santa Casa seguiu os protocolos médicos estabelecidos, que não indicam cirurgia de catarata sem exames clínicos compatíveis e sinais concretos da patologia. Mais do que um erro pontual, o episódio levanta um alerta: quantas cirurgias estão sendo indicadas sem necessidade real?
Diagnósticos divergentes que confundem o paciente
Quando diferentes instituições dão respostas opostas para o mesmo sintoma, o paciente entra em um estado de angústia e insegurança. Quem está certo? A quem confiar a própria visão?
Pressa pela cirurgia: necessidade real ou falta de protocolos?
Em muitos hospitais, a falta de diretrizes clínicas claras faz com que médicos operem com base na experiência pessoal, sem padronização. Em outros casos, pode haver até incentivo financeiro por volume de procedimentos, ainda que em instituições públicas o ganho indireto venha por outro caminho — como reputação, práticas adotadas ou parcerias.
A importância da segunda opinião e do direito à dúvida
Este caso é um exemplo direto de como a busca por uma segunda avaliação pode evitar procedimentos desnecessários. O direito à dúvida deve ser respeitado, e incentivado, principalmente em diagnósticos que envolvem cirurgia.
Protocolos e ética médica: onde estão sendo aplicados?
A diferença entre os dois atendimentos também mostra que, quando um hospital segue os protocolos internacionais de conduta clínica, os diagnósticos tendem a ser mais confiáveis e seguros. O oposto também é verdadeiro — onde não há controle, o paciente corre risco.
O que começou com olhos lacrimejando terminou com um alerta muito mais grave: a saúde pública ainda permite que diagnósticos sem critérios coloquem em risco a integridade física e emocional dos brasileiros. A confiança entre médico e paciente, que deveria ser sagrada, é diariamente corroída por decisões apressadas, erros técnicos e ausência de uma revisão independente dos casos.
Convite para o próximo artigo:
“Diagnóstico ou Perigo? Quando Cirurgias São Indicadas Sem Necessidade Real” — uma análise sobre os riscos da indicação precoce de cirurgias em diversas especialidades médicas.